quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

ESCRAVIDÃO - RESENHA


     Ouço muitas pessoas falarem: “Eu não tenho dívida nenhuma com a escravidão, não estava lá na época”. Em tese, não estávamos, mas tenho minhas dúvidas, já que acredito que tudo está interligado: pessoas – Terra – tempo – espaço. Principalmente, quando sabemos o quanto o povo escravizado sofreu. Creio que algum reparo, que nossos antepassados deveriam ter feito e não fizeram, podemos fazer agora. Um arquiteto baiano foi atrás de sua ascendência africana, em busca de uma resposta. Através de pesquisa de seu DNA, ele descobriu onde vivia seus ancestrais. Ele viajou para uma comunidade no interior de Camarões e indagou ao chefe da tribo por que seus antepassados deixaram que seu povo fosse escravizado e humilhado. Isso é contado por Laurentino Gomes em seu mais novo livro: Escravidão – Volume 1, que explora a história desde o primeiro leilão de escravos, em Portugal, em 1444, até a destruição do Quilombo dos Palmares e consequente morte de Zumbi, em 1695. Para nos brindar com essa obra de arte, Laurentino Gomes foi a vários países e escarafunchou tudo o que pôde para escrever, magistralmente, sobre a história do povo escravizado, que nem sempre foram os negros.
     Mergulhei nas 504 páginas do livro, naquele terrível episódio da história do Brasil e de outros países, sentindo na alma a dor, aflição e sofrimento pelos quais passou o povo escravizado, a maioria vindo da África. O Brasil foi o maior território escravista do Ocidente, com 5 milhões de africanos cativos, dentre os 12,5 milhões embarcados da África para a América. Aliás, o Brasil sempre esteve em destaque em relação à escravidão, foi o último país a acabar com o tráfico e último do continente a libertar os escravos. A capital que mais recebeu escravos? Rio de Janeiro. Durante 3 séculos e meio, a economia brasileira girou em torno da escravidão, com a plantação de cana e depois café e depois com as pedras preciosas. Naquela época, Brasil era açúcar e café e açúcar e café eram escravidão. Por incrível e mais cruel que pareça, o tráfico de escravos foi um elemento determinante na formação do país. Além disso, O Brasil é citado mais uma vez através do mais famoso e mais rico mercador de escravos da Costa africana: Francisco Félix de Souza, nascido em Salvador, tendo se mudado ainda jovem para a África.

     O tratamento e as condições que eram impostos aos escravizados eram abomináveis. 45% deles morriam no trajeto África ao Continente Americano. De 100 capturados, 40 sobreviviam no final da jornada. Eram transportados em ambientes insalubres, fétidos, em meio a fezes e ratos, mal alimentados, tratados como cargas, como animais.
     Certa vez, em discussão no meio político, alguém do novo governo alegou que o Brasil não foi à África retirar o povo de lá, que foram os próprios africanos que escravizaram seu povo. Mas essa alegação não passa de uma má interpretação da história. O livro Escravidão cita que tribos africanas vendiam seu próprio povo para sobreviver economicamente. Mas, quem explorou a mão-de-obra escrava, humilhou e agrediu foram os países europeu e americano. E acredito que esse carma pesa até os dias atuais, como um fardo que teremos que carregar por toda a história e expiar em algum momento de nossa vida. Parece bobagem, mas basta observar algumas pessoas que espelham em sua personalidade características escravistas, que com truculência, impõem autoridade sobre os demais, que muitas vezes, não conseguem ou não encontram condições para se defenderem.

Por: Denise Constantino da Fonseca

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A TERRA INABITÁVEL- Resenha


A TERRA INABITÁVEL – UMA HISTÓRIA DO FUTURO

POR: DAVID WALLACE-WELLS
CIA DAS LETRAS – 2019 – 1ª ED.


Considerado como o Best-Seller do New York Times, Terra Inabitável começa com a frase: “É pior, muito pior do que você imagina”. Nessa hora, os pelos dos braços e da nuca já arrepiam, parecendo se tratar de uma história de terror. E essa sensação se agrava no decorrer da leitura. Falando em leitura, o livro é dinâmico, com linguagem fácil de entender sem o dicionário do lado. É leve e empolgante, digno de ser devorado em pouquíssimos dias.
Muitos leitores vão achar que o autor exagerou e está sendo apenas sensacionalista, mas se pararmos para analisar os tópicos relatados, percebemos que ele não está sendo tão exagerado como se pode pensar. David Wallace-Wells, jornalista e editor da New York Magazine, dividiu o livro em quatro capítulos e alguns subcapítulos, onde tece seu raciocínio, sua pesquisa e pensamentos sobre diversos acontecimentos e consequências das mudanças climáticas, exemplificando e desenhando um cenário de filme catástrofe, que nos faz lembrar dos blockbusters que lotam salas de cinema, como o filme 2012.
O escritor descreve o que pode ocorrer com a Terra e a sua população se a temperatura subir 1,5°, 2°, 3°, 4° e mais graus. Acreditem, é horripilante só imaginar – calor extremo, colapsos político e econômico, incêndios florestais (olha eles aí), desertificação, falta de água potável, derretimento das calotas polares, migração em massa, fome, chuvas torrenciais, doenças tropicais, furacões, alagamentos, desaparecimento de cidades e até países. Não somente os pobres sofreriam, embora fossem os mais afetados, os países ricos também seriam atingidos, como os EUA, Alemanha e Inglaterra. Sei, também pensei a mesma coisa: “well done”, já que os EUA estão na lista dos países que mais prejudicam o planeta. Mas esse pensamento mesquinho e vingativo é irrelevante diante de tanto sofrimento que veríamos e viveríamos, se realmente o Sr. Wallace-Wells estiver certo.
O mais chocante é que no decorrer da leitura chega-se à conclusão de que o núcleo de toda essa catástrofe é a industrialização, o consumo desenfreado e até mesmo a tecnologia, que tanto cremos ser aliada para facilitar nossa vida. Na verdade, seremos todos culpados e colheremos o que estamos plantando.
Até o Brasil é citado, na página 97, em uma crítica ao presidente Jair Bolsonaro e seu negligente e irresponsável projeto de exploração da Floresta Amazônica.
Enfim, não darei mais spoiler. Há muito ainda para usufruir do livro. A Terra Inabitável é um bom entretenimento e acredito que chega bem próximo da realidade apocalíptica a que estamos expostos, caso algo não seja feito, urgentemente, para frear a devastação de nosso planeta. Alô, Greta Thunberg.
David Wallace-Wells não é um profeta e nem vidente, talvez só quisesse nos assustar, mas não são o medo e o susto que fazem acender o alarme de sobrevivência em nossa mente? Então valeu, David.

 Por: Denise Constantino



terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Concurso Literário Firjan 2019





 Dia 02 de março de 2019 foi uma data especial para os 10 ganhadores do Concurso Literário promovido pela Firjan/Sesi para os funcionários da indústria do Estado do Rio de Janeiro, que aconteceu no Clube Municipal, em Barra Mansa. Fui contemplada em 5º lugar na categoria Contos e nunca fui tão valorizada como escritora em nenhum concurso literário dos quais já participei e ganhei em primeiro lugar. Após as falas de abertura, leitura dos textos contemplados em 1º lugar nas categorias poesia e contos e premiação em dinheiro para os vencedores do 1º a 3º lugares, os 10 ganhadores foram direcionados a uma grande mesa para procedermos à sessão de autógrafos. Foi muito divertido e valorizante. O coquetel servido foi de primeira qualidade: canapés deliciosos, água, suco, refrigerante e para fechar a noite, espumante. Parabéns aos organizadores da Firjan pela noite agradável, leve e divertida. Que venham outros concursos. Abaixo, segue um trecho do meu conto.

O APOCALIPSE DE OLÍVIA


            O fim tem várias formas e está dentro de cada um.
Não costumava acordar às 10 horas; naquele dia foi um caso à parte. A cabeça, ainda atordoada, demorou a processar que havia um burburinho vindo da rua. Foi difícil levantar. A coluna enferrujada não obedecia ao cérebro, que estava prejudicado pela lentidão dos reflexos. Foram as pílulas. Mas, o que podia fazer? Sem elas não dormia. Quando finalmente conseguiu levantar-se, calçou os chinelos de pano e dirigiu-se a passos arrastados até a janela. Afastou a cortina e olhou a rua. Viu as pessoas correndo aflitas e desesperadas, umas atropelando as outras, carros buzinando e avançando pela rua tomada por uma multidão que parecia insana. Afastavam-se de uma fumaça que ela viu saindo do térreo de seu prédio. “Meu prédio? Tem certeza?” Ouviu um estrondo e outros e mais outros e mais fumaça. Estalos de vigas, um leve tremor. Lembrou-se de cenas parecidas já vistas em filmes catastróficos. Lamentou-se que aquilo estivesse acontecendo, embora não soubesse o quê. Poderia ser um terremoto. Poderia ser um tsunami, ou furacão, ou até mesmo a erupção de algum vulcão perdido, disfarçado, que nunca ninguém poderia imaginar que existia. Mais certo seria um desmoronamento. Provavelmente uma obra mal feita por algum engenheiro mal formado ou uma empreiteira oportunista que usou materiais de quinta categoria. “Mas era o meu prédio que estava desmoronando, louca!”  Será? Não queria muito prestar atenção àquele fato. Poderia ser um fake. Sim, fake psicológico. Aquilo não estava acontecendo. Era apenas um pesadelo. Deveria estar ainda dormindo e não acordada divagando se o mundo estava acabando. E daí se estivesse? Já estava acostumada com fins. Era doutorada em fins. Poderia ministrar aulas em alguma universidade ensinando como atrair e lidar com fins...


sexta-feira, 14 de setembro de 2018

A INTOLERÂNCIA VEM DE TODOS OS LADOS


A intolerância vem de todos os lados e faz com que não percebamos que o que queremos é apenas chegar ao mesmo objetivo. Na verdade, não existe lado certo ou errado. Todas as direções levarão a um lugar comum, onde todos querem chegar - à evolução material, emocional e espiritual do ser humano. Essa conjectura se deve à imensidão de duelos nas mídias entre esquerda e direita. “Esquerdista” agora é palavra non grata, devido ao fracasso do Partido dos Trabalhadores, que gerou a prisão de seu maior líder. Antigamente, numa visão simplória minha, eu sei, achava que se eu concordasse com as práticas governamentais vigentes, eu seria da direita, e se eu fosse contra, eu seria da esquerda. Ao longo dos anos e de pesquisa, percebi que há várias conotações para a palavra “direita” e “esquerda”. “Direita”, muitas vezes demonstra tom positivo, como se fosse o “certinho” da história; afinal, na história, Jesus sentou-se à direita do Pai. No nosso corpo, usamos mais o lado direito... “Esquerda” já tem um tom mais negativo, transgressor, contestador, de luta e a favor das classes menos favorecidas. Fazendo uma viagem no tempo para entender melhor, antes da Revolução Francesa, as classes sociais se dividiam em nobreza, clero e burguesia e na Assembleia para instituir a Constituição francesa, houve a partição. A burguesia queria diminuir o poder da nobreza e do clero, mas não queria se misturar aos pobres – os trabalhadores, então, escolheu sentar-se à direita do Presidente da Assembleia, a favor do rei e da igreja. Eram conservadores e tradicionalistas. Os que se sentaram à esquerda queriam uma mudança radical, o fim da monarquia e maior poder para o povo, daí a relação com a luta dos trabalhadores. Nos dias atuais, fazendo uma analogia, temos: a nobreza (presidente da república), o clero (bancada evangélica) e a burguesia (empresariado), e muitos outros fatores foram associados às designações “esquerda” e “direita” o que gerou a guerra que vemos hoje nas mídias sociais. Direitistas acusam os esquerdistas de destruírem a família tradicional, negarem a igreja e causarem o declínio moral da sociedade, seguindo as ideias Marxistas e de Engels. O que não consigo entender é como a política pode influenciar na moralidade de um homem que trai a mulher, ou espanca, ou estupra ou abandona seus filhos, ou mesmo de uma mulher que abandona a família. Hoje, estamos vivendo em um mundo violento, em que as pessoas não têm o menor despudor de matar por dinheiro e poder ou para conquistar território. As pessoas querem facilidades, a materialidade, possuir as coisas sem importar como consegui-las, nem que tenha de arrancar a cabeça do irmão. Creio que tudo isso é mais um problema de caráter e alma do que político. 
Não culpo as pessoas desesperadas e que se iludem por um discurso diferente de tudo que já vimos e que não deu certo, porém, o endeusamento de determinados candidatos, o número crescente de cabos eleitorais gratuitos têm assustado muito com postagens agressivas, repetitivas, absurdas e algumas falsas, deturpadas e manipuladas para ludibriar aquele que não quer votar. De repente as mídias sociais se transformaram em um ringue de luta livre, em que “girondinos” e “jacobinos”, leiam-se direitistas e esquerdistas despejam frases de efeitos, grosseiras, ofensivas, espinhosas, inclusive maculando amizades. A intolerância é mostrada como um tsunami, revelando o lado negro dos brasileiros: racistas, homofóbicos, machistas, xenófobos e os mesmos que clamam Deus e dizem que vão orar por seu candidato, comemoram a morte de inocentes, declaram ódio a imigrantes desesperados, famintos e ansiosos por uma oportunidade de sobrevivência. Estou assustada, realmente. Essas pessoas que demonstram tanto ódio e rancor são as mesmas que querem pegar em armas para combater a violência e quando lembramos que durante a ditadura, grupos pegaram em armas para lutar contra o autoritarismo, a censura e a truculência, eles gritam: “esquerdistas, comunistas, socialistas”. O que percebo é que todos estão com muita raiva, revolta, desesperançados e com isso, a mente fica aberta a quaisquer oportunistas com discursos inflamados que prometem justiça, ordem e combate a todos os males que sufocam o brasileiro. Só o que nós, brasileiros, precisamos é que aquele que colocar a faixa presidencial seja um homem íntegro, competente, que faça a Constituição funcionar, que não deixe o nosso país definhar, que, embora haja contradições, encontre meios não danosos de combater a violência; que não se deixe levar pela luxúria que o poder desperta, que trabalhe para o povo, que seja realmente um líder para nossa nação. Difícil? Eu sei, mas não impossível. No mais, todos queremos boas mudanças; mas, vale lembrar que a mudança começa em nós, na nossa consciência e na nossa alma. Sejamos mais tolerantes, mais ouvintes, saibamos dialogar e façamos dos debates uma dialética, tais quais os filósofos faziam para aprimorar as ideias.


Por: Denise Constantino

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

FLIP 2018


Demorou para eu conseguir pegar em papel e caneta para escrever sobre a FLIP 2018, a 16ª. Lembro que somente perdi a 1ª, ou seja, há 15 anos frequento a Festa Literária Internacional de Paraty, nos seus cinco dias intensos de pura cultura e literatura. E gradativamente, a cada ano, aumenta o número de frequentadores, uns loucos por literatura, outros apenas curiosos pela movimentação turística na histórica cidade ou pela circulação de artistas. Nesse ano não vi placas de “não há vagas” nas pousadas, mas percebi um grande e insuportável burburinho pela cidade. Cheguei à conclusão de que eram passantes, público “day use”. Não se pode negar que o público da Flip tem mudado. Tornou-se uma festa popular.
Esse ano a homenageada foi Hilda Hilst, uma escritora e poetisa além de sua época que acreditava no místico e no sobrenatural. A escolha não poderia ser melhor em tempo de plena revolução e “empoderamento” feminino. Aliás, a presença feminina na 16ª Flip foi maciça, inclusive com uma casa só para elas: Casa Insubmissa de Mulheres Negras, onde autoras negras falaram sobre seu espaço na cultura e na literatura. Falando em casas parceiras, esse ano foram 29, com programações intensas e atrativas, até mais do que no palco da programação principal. Só não esperem que eu diga o nome de todas, porque nem a metade consegui explorar.
A Casa Não-Ficção Época Vogue propôs debates e palestras pertinentes a temas da atualidade, incluindo política, economia e feminismo. Na manhã de quinta-feira, dia 26 de julho, Fernanda Young, o publicitário Dedé Laurentino, mediados pela diretora de redação da Vogue, Silvia Rogar, conversaram como “O Feminino e o Feminismo”. Fernanda, com toda sua extroversão, disse que não gosta da palavra “empoderamento”. Primeiro porque veio do estrangeirismo e segundo, porque acha que o poder é burro e estúpido. Ainda criticou a ABL, com seus acadêmicos togados e os envolvidos na programação principal da Flip, os quais disse formarem uma “panelinha”. A Casa Vogue ainda recebeu Fernanda Torres, o juiz federal Marcelo Bretas, o escritor e comediante Gregório Duvivier, Zélia Duncan, Fernando Haddad e Guilherme Boulos. As palestras foram bem concorridas. As filas chegavam a quilômetros de distância e a espera chegava a mais de 2 horas para garantir um dos poucos lugares disponíveis. Uma verdadeira maratona na qual não obtive muito sucesso.
Outra casa bem concorrida foi a Casa Folha, tal qual todo ano. A fila para a Monja Coen chegou até a ponte que liga o centro histórico ao bairro Pontal. Nessa Casa ainda tiveram Zeca Camargo e Ruy Castro, palestrantes assíduos de várias Flips. Como de costume, após as 20h, a Casa Folha ofereceu boa música e cerveja para os visitantes. Infelizmente, nesse ano só consegui entrar na primeira noite.
Hilda Hilst teve direito a uma casa em seu nome, na Praça da Matriz, a Casa Instituto Hilda Hilst, cuja programação também foi bem concorrida e o espaço bem limitado não foi o bastante para a quantidade de interessados. Eu mesma fiquei de fora. 
O SESC se desdobrou em 4 espaços, mas não apresentou nomes de destaque e grande representatividade nas palestras, como nos anos anteriores, exceto a apresentação de Fernanda Montenegro. A Unidade Caborê está ainda mais agradável para passar o dia, boa decoração em meio à natureza com as mais diversas formas de arte. A unidade SESC, no centro histórico ainda ofereceu as oficinas literárias, muito concorridas.
Pela segunda vez na FLIP, mas com uma abrangência maior, o espaço do Museu da Língua Portuguesa, patrocinado pela EDP, ofereceu um confortável lounge ao público, com degustação de comidinhas e bebidas, prestigiando os países que falam a língua portuguesa. À noite, aconteceram saraus e música boa com direito a coreografias, lideradas por recreadores dançarinos, o que proporcionaram momentos de muita diversão.
Nesse ano teve até casa flutuante, aliás, duas: Barco Flipei e o Barco Laranja Oificial. O primeiro, que tinha ares de barco protesto, pró-Lula recebeu Gregório Duvivier, Marcelo Freixo e Anielle Franco (irmã de Marielle), Guilherme Boulos e Djamila Ribeiro. Ainda teve um ritual antropofágico de “fora Temer”.
Outras casas mereceram visitas: Casa Paratodxs, Casa Philos, Casa da Porta Amarela, Casa Fantástica e Casa do Desejo, estreantes em Paraty; e Casa Libre e Nuvem de Livros, Publishnews e Casa Sesi, além de muitas outras.
Se eu fui à tenda da programação principal? Sim, na abertura da Flip, quarta-feira, às 20h, assistir Fernanda Montenegro ler textos, brilhantemente, de Hilda Hilst, seguida com a bela declamação de poesia de Bell Puã, que foi amplamente aplaudida tal qual foi a grande Fernanda.
Fazendo um balanço final, a Flip sempre é Flip. Um evento que continua valendo a pena passar por todas as dificuldades para conseguir assistir um bate-papo informativo e culturalmente rico, embora não tenha me sentido muito confortável esse ano, mesmo diante de tantas casas parceiras. Antes tinha a sensação de que a Flip era minha. Agora, sei que ela se repartiu em milhares de braços, que não são somente de professores de literatura, nem de escritores ou editores ou críticos literários, mas de uma diversidade imensa da população que enchem as ruas de Paraty, fogosas em busca de opiniões, ideias, debates e informações. 

Por: Denise Constantino

terça-feira, 19 de setembro de 2017

OS DIAS ERAM ASSIM

Ontem assisti ao último capítulo da super série global Os Dias Eram Assim. Chorei horrores. Pela cena de Renato e Alice, grisalhos, declarando amor eterno ao som de “Nossa Canção”, de Roberto Carlos; pelo regozijo e felicidade alcançados a duras penas pela família de Vera (Cássia Kiss); pela morte de Nanda (Júlia Dalávia); enfim... Os críticos dizem que a série não foi grande coisa, apesar de maior audiência comparada às outras exibidas no mesmo horário; que teve muitos clichês; que foi muito didática... Não importa. Acho que o didatismo histórico teve bom caimento para conhecermos ou relembrarmos aqueles momentos sombrios da ditadura. Mas, minha intenção não é criticar positiva ou negativamente a série, e sim divagar sobre a trilha sonora, maravilhosa. Fez-me lembrar de minha juventude embalada ao som de Legião Urbana, Marina Lima, Secos & Molhados, Chico Buarque, Elis Regina e outros. Arrepiava-me toda quando ouvia os primeiros acordes de “Eu Não Sei Dançar” e “Sangue Latino”. Ai!

Na verdade, o ponto que quero mencionar, relacionado à trilha sonora é o mote das letras compostas naquela época, de revolução, de luta e contrariedade ao governo vigente, ditatorial e arbitrário. Letras que eram uma manifestação velada, porém irônica e debochada dos artistas. Agora façam um paralelo com os dias atuais. Não consigo entender por que tanto silêncio. Até mesmo os artistas se calaram. As músicas já não são mais as mesmas. Não há músicas de engajamento, de repúdio, de protesto; não há participação política. E olha que naquela época o medo reinava e mesmo assim não calou as vozes artísticas. Será esse silêncio o responsável pela disseminação da pobreza das letras que povoam as mentes de hoje? O conteúdo crítico e subversivo deu lugar à erotização e à apologia ao vício, cujas letras são fáceis de decorar e são mastigadas como chiclete. A razão disso é a falta de artistas de qualidade, que escrevam boas letras ou os ouvidos ficaram menos exigentes e deram uma guinada, alavancando o botão do ritmo balançante erótico, não importando a letra banal e carente de conteúdo? Eu não tenho a resposta, talvez esse assunto renda várias teses. Precisa ser estudado. Sim, eu sei que o tempo passou, que as pessoas são outras, mas a ordem certa das coisas não é com o passar do tempo haver evolução? Revolução? Bem, o que consigo enxergar é apenas retrocesso. Em todos os sentidos. Que o Cosmos nos ajude.  

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

SER PRESTATIVO

“A verdadeira caridade é o desejo de ser útil aos outros sem pensar em recompensas...”

            Ser prestativo... Sabemos o que é isso?

            Quantas vezes já ouvimos a frase: “você não presta pra nada!” Essa frase não soa nada agradável aos nossos ouvidos. Cito aqui o maior exemplo de presteza, de gentileza e de caridade: Jesus Cristo. Jesus parou o que estava fazendo e humildemente, foi lavar os pés de seus discípulos, o que pode ser comprovado em João 13:3-10. Mesmo tendo todos aos seus "pés", Ele despiu-se de sua posição de líder, de sua posição de filho de Deus e foi ser servo. Isso é humildade. Ser prestativo nada mais é que ser humilde. É tirar a máscara do orgulho, da arrogância e do egoísmo e servir a alguém que precisa de nossa ajuda, de nossa generosidade, de nossa gentileza. E por falar em gentileza, de acordo com o artigo na “Isto É” (Por que ser gentil vale a pena), estudos mostram que gentileza traz felicidade a quem pratica. E só posso chegar à seguinte conclusão: se fizermos o bem aos outros, os outros ficam felizes e a felicidade é contagiante, é uma condição que chega às pessoas em uma cadeia de bons gestos. Esse é o segredo da felicidade. Muitas pessoas, vítimas das dificuldades do dia a dia, da correria da vida urbana, usam isso como desculpa para não praticarem a gentileza; trancam-se em si mesmas e em seus problemas, como se fossem os únicos sofredores nesse mundo. Porém, o que todos nós devemos entender é que vivemos conectados e que o humor de um interfere no humor do outro. Quando entramos em uma loja todos nós queremos ser bem atendidos, que o atendente seja prestativo e gentil e o que fazemos ao outro é o que queremos que nos façam, concordam? É a lei do retorno. O que fazemos ou o que não fazemos hoje nos será cobrado amanhã. E isso não é religião, é ciência, é Física, é a lei de ação e reação. Ser gentil e prestativo, ter boa vontade é melhorar-se como ser humano. Então, porque não ajudar nos serviços domésticos, seja homem, mulher ou adolescente? Por que não lavar a louça que lhe serviu a comida? Por que não levar o lixo para fora? Por que não limpar o quarto onde dormiu? Por que não ajudar uma pessoa mais velha a carregar bolsas de compra ou a atravessar a rua? Ou mesmo um cãozinho assustado... Por que não? Por que não arrumar a bagunça do armário? Por que não reabastecer a geladeira de água após beber a última gota, porque o outro também terá sede? Porque a mãe, a avó, o colega, a empregada, o irmão ou a irmã, ou o outro farão por nós? O senso de utilidade caminha junto com a gentileza e com a presteza e nos faz mais saudáveis e felizes. Então, criemos uma nova mentalidade, uma nova consciência em 2019, sejamos mais gentis, mais prestativos, tenhamos mais boa vontade para com o próximo e assim poderemos construir os alicerces de uma vida plena e feliz.

Feliz Ano Novo, esperança de um mundo melhor.

Por: Denise Constantino


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

CONCURSO DE CONTOS DE SÃO JOÃO MARCOS 2016


Muito feliz com o 4º lugar. Primeira vez que participei e depois de pesquisas na internet, nasceu Um Amor Submerso, um romance passado em São João Marcos, na época de sua destruição. Em breve, publicarei o conto.

BOATOS NÃO!

Como se não bastasse a falta de decência; o país em falência; as pessoas sem paciência... O povo desempregado, desolado, sentindo-se encurralado e decepcionado (desculpem tantas rimas), agora também tem palhaçada. Mas não é do tipo que nos faz rir, não. É do tipo que aterroriza, mais do que já estamos aterrorizados. Não bastam os terrores de todo dia, que são notícias e que nos assombram? São governantes ladrões, bandidos e corruptos; Estados falidos; milhões de desempregados; trabalhadores sem salários; saúde e educação decadentes; PECs sem noção; ter de trabalhar até morrer, isso se o mercado de trabalho abrir as portas para os idosos; assistir pessoas que oprimidas pela perseguição e guerra, saem de seus países, buscando uma nova chance de sobrevivência, onde possam viver em paz, e que acabam morrendo nos mares ou são tratados como lixos humanos; o preconceito; a xenofobia; o racismo; a homofobia; assaltos; sequestros; assassinatos cruéis; os abusos em mulheres e crianças; as crianças feridas que nem conseguem chorar, vítimas de guerras civis sem fim; a destruição do nosso planeta pela ambição dos homens; a fome; as doenças; a dengue; chikungunya; a zika... Não, não quero essa zika para minha vida. Não precisamos de palhaços assassinos; de ETs invasores, sugadores de cérebros; de furações e ciclones e tsunamis; de ataques de macacos doentes; de teorias de conspiração; de choque de asteroide... Não precisamos de mais desgraças, já temos um estoque considerável e que nos ocupa o bastante, tentando encontrar um meio de lidar com tudo que vem acontecendo, realmente.
Chega de boatos, de notícias sensacionalistas. Falsas informações podem levar ao pânico e até mesmo a crimes e acidentes ou mortes. Observa-se que o que é negativo sempre rende mais, a ansiedade por informação é grande, pois o imediatismo impera em nosso mundo, por isso os boatos se disseminam nas mídias sociais e ganham uma importância desnecessária. E para esses que acham que a vida está muito sem graça e inventam essas historinhas macabras para terem mais emoção em suas vidas vazias, digo que saiam por aí para ver desgraça verdadeira e sua vida insossa e monótona se transformarão em pura emoção.
E para os que, no primeiro instante, acreditam nessas informações duvidosas, tenham bom senso e busquem fontes oficiais, questionem, não supervalorizem informações enviadas pelas mídias sociais e na dúvida, não repassem, não espalhem, pois só assim não estarão contribuindo com aqueles que se comprazem em espalhar pânico.


Por Denise Constantino